martes, 30 de abril de 2013

Paixão Pagu


                 Trecho extraído do livro Paixão Pagu, autobiografia precoce de Patrícia Galvão





Oswald já era quase um hábito. Nas semanas que precederam nosso casamento, ele foi quase uma necessidade. Mesmo dentro da palhaçada dos proclamas, eu distingui o carinho na preparação de nossa vida. Acreditei numa aproximação mais intensa, num laço mais profundo de sentimento. Era mais nítida a possibilidade de realização do meu desejo de lar e de ternura.
Na véspera de nosso casamento, fui a Penha, encontrar Oswald no Terminus. Era muito cedo. Eu ia deslumbrada pela manhã e emocionada por meus sentimentos novos. Era quase amor. Era, em todo caso, confiança na vida e nos dias futuros. Havia em mim uma criança se formando... Beijei o ar claro. Foi uma oração a que proferi pelas ruas.
Cheguei ao quarto de Oswald. Não havia ninguém. Um criado do hotel me indicou outro quarto. Bati. Oswald estava com uma mulher. Mandou-me entrar. Apresentou-se a ela como sua noiva. Falou de nosso casamento no dia imediato. Uma noiva moderna e liberal capaz de compreender e aceitar a liberdade sexual. Eu aceitei, mas não compreendi. Compreendia a poligamia como consequência da família criada em base de moral reacionário e preconceitos sociais. Mas não interferindo numa união livre, a par com uma exaltação espontânea que eu pretendia absorvente.
Mas fingi compreender. A intoxicação amoral já impedia minha naturalidade. O medo do ciúme exposto. A falta de coragem da debilidade provocou a primeira atitude falsa, um sorriso complacente para as primeiras decepções. Tomamos café juntos, os três. A mulher, surpreendida no início, acalmou-se. E coloquei no alicerce da vida que íamos constituir a primeira estaca de simulação. Eu me dispus a lutar contra os preconceitos de posse exclusiva.

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