martes, 28 de abril de 2009

Sexismo na linguagem: algumas notas

Olá amigas e companheiras, só hoje entramos em contato pois a luta que estamos acompanhando diretamente com xs companheirxs do MST/RS nos matinha ocupadas.

Podem ler aqui e, por favor, ajudar a divulgar tanta injustiça que nos tem indignadas!!
http://mulheresrebeldes.blogspot.com/2009/04/apesar-de-voce-o-mst-continua-na-luta.html

Fica ligada que a próxima reunião estará acontecendo na quinta-feira em lugar de quarta-feira. Estarmos trabalhando acima de um texto da Teresa Meana : Sexismo na linguagem: algumas notas.

Te esperamos na quinta-feira 30 de abril, 19.00 horas na Travessa Francisco Leonardo Truda 40, sobreloja – Porto Alegre/RS.
Fones : 51 – 3333 3538 / 9239 1891 / 9253 4300
mulheres_rebeldes@hotmail.com




Não é necessário o uso de @ para incluir as mulheres. Tem soluções mais criativas para transformar a linguagem. E quando transformarmos a linguagem transformaremos a realidade.





Teresa Meana Suárez





Lembro com tanta nitidez que parece que foi ontem, mas faz quase trinta anos. Seria aproximadamente 1973 e estávamos numa assembléia na Faculdade de Filosofia, em Oviedo. Havia muita gente e muita confusão e alguém -um homem, claro- gritou: Caralho! Isto é uma assembléia ou o que? Outro -um fascista, claro- advertiu: Cuidado com as palavras, tem senhoritas presentes!
Foi exatamente assim e, naturalmente, a advertência do fascista foi acolhida com um certo regozijo geral. Como naqueles tempos de forte luta contra a ditadura de Franco as assembléias tinham turnos intermináveis de falas, passou-se um longo tempo, com as mais diversas intervenções. No final, se levantou Begoña -uma amiga feminista- e falou: Eu só quero dizer uma coisa: Caralho! A mim, feminista, desde que me lembro, aquilo me fascinou. Senti que Begoña acabava de nos devolver a todas a voz, a existência. Éramos de novo pessoas -como eles- e não “senhoritas” e tínhamos direito a palavra. A todas as palavras. Na luta por existir, se queríamos ser reconhecidas e nomeadas no “seu” mundo, tínhamos que adotar a “sua” linguagem. Begoña acabava de afirmar em voz alta: a língua também era nossa. Conto esse fato para tentar explicar o apaixonante processo, o caminho recorrido neste mais de vinte e cinco anos de atuação do movimento feminista no tema do sexismo na linguagem. Um trajeto em que nos conscientizamos de que tomar a parte da língua que nos negava equivalia a aceitar o silêncio. Também aprendemos, como assinala Christiane Olivier, que se utilizamos a linguagem considerada “universal”, que é o masculino, falamos contra nós mesmas.

SILENCIADAS, DESPREZADAS



Na luta por essa linguagem que nos representasse às mulheres e que enfrentasse o sexismo lingüístico, passamos por diferentes etapas. No princípio tratamos apenas de detectá-lo. Nunca o havíamos notado e não éramos conscientes de como a linguagem nos discriminava. Começaram a surgir os estudos e os trabalhos sobre o tema. Concretizamos o sexismo em dois efeitos fundamentais: o silêncio e o desprezo. Por um lado, o ocultamento das mulheres, nosso silêncio, nossa não existência. Estávamos escondidas detrás dos falsos genéricos: esse masculino que, havíamos aprendido na escola, “abarca os dois gêneros”. E também estávamos ocultas detrás do salto semântico. Devemos a Álvaro García Meseguer a definição desse erro lingüístico devido ao sexismo: expressado naquilo de “todos na vila baixaram até o rio para recebê-los, ficando na aldeia apenas as mulheres e as crianças. Então, quem baixou? Somente os homens? Por outro lado estava o desprezo, o ódio em direção às mulheres. Se manifestava nos duplos aparentes (governante/governanta, verdureiro/verdureira, frio/fria, etc.), nos vazios léxicos, nos adjetivos, advérbios, refrãos e frases feitas, etcétera., etc., etc.

SURGEM MIL E UMA SOLUÇÕES



Depois de detectar o sexismo na linguagem, começaram a aparecer diferentes recomendações para um uso não sexista da língua. Desde meados dos anos 80 o feminismo avança em estratégias para combater tanto o silêncio como o desprezo, e as soluções vão se aperfeiçoando e se redigindo novas instruções. Até 1994 aparece na Espanha o livro Nombra, elaborado pela Comissão Assessora para a Linguagem do Instituto da Mulher, verdadeiramente esclarecedor e útil. As possibilidades que nos coloca são realmente variadas, criativas e diversas. Frente aos difíceis e contínuos (o/a, o (a), o-a) nos oferecem: a utilização de genéricos reais (vítimas, pessoas, vizinhança -e não vizinhos-, população valenciana -e não valencianos). Também o recurso aos abstratos (a redação e não os redatores, a legislação e não os legisladores). Mudanças também nas formas pessoais dos verbos ou dos pronomes (no lugar de Na Pré-história os homem viviam... podemos dizer os seres humanos, as pessoas, as mulheres e os homens e também na Pré-história se vivia... ou na Pré-história vivíamos...). Outras vezes podemos substituir o suposto genérico homem ou homens pelos pronomes nós, nosso, nossa, nosso ou nossos (É bom para o bem-estar do homem... substituído por É bom para o nosso bem-estar...) Outras vezes podemos mudar o verbo da terceira para a segunda pessoa do singular ou para a primeira do plural sem mencionar o sujeito, ou colocar o verbo na terceira pessoa do singular precedida pelo pronome se (Se recomenda aos usuários que utilizem corretamente o cartão ... substituído por Recomendamos que utilize seu cartão corretamente... ou Se recomenda o uso correto do cartão). Ou ainda as mudanças do pronome impessoal (Quando um se levanta ficaria Quando alguém se levanta ou Ao levantarmos e também mudaríamos O que tenha passaporte ou Aqueles que queiram... por Quem tenha passaporte... ou Quem queira...). Também temos recomendações para corrigir o uso androcêntrico da linguagem e evitar que não se nomeiem as mulheres como dependentes, complementos, subalternas ou propriedades dos homens (Os nômades se transportavam com seus utensílios, gado e mulheres, Se organizavam atividades culturais para as esposas dos congressistas. Às mulheres lhes concederam o voto depois da Primeira Guerra Mundial), oferecendo-nos múltiplas e variadas soluções. E assim mais, muito mais.

A LINGUAGEM NÃO É NEUTRA



Já existiam duas posturas distintas no movimento feminista acerca dessas questões. As que defendem a posição de que as mulheres devemos apropriar-nos do genérico e considerar específico aos homens. Por exemplo: num centro de ensino seríamos –mulheres e homens- professores, e se nos referimos a Juan, diríamos professor homem e a Ana poderíamos dizer ela é o melhor professor do instituto. A outra posição é das que pensamos que o genérico não é universal. Seguindo com o exemplo anterior: eles e nós seríamos o professorado ou as professoras e professores.
A primeira postura se expressa assim: O genérico, o neutro, o universal é patrimônio de todos. Deve-se denunciar a falsa universalidade, mas também se deve reivindicar a participação das mulheres no universal. Nós pensamos que não é certo que o genérico seja patrimônio comum. Os vocábulos em masculino não são universais por não englobar às mulheres. É um fato que nos excluem. Diz-se que são universais porque o masculino se ergueu ao longo da história na medida do humano. Assim os genéricos se confundem com os masculinos.

QUEREMOS NOMEAR A DIFERENÇA



Ademais, pensamos assim porque queremos nomear o feminino, nomear a diferença. Dizer meninos e meninas ou mães e pais não é uma repetição, não é duplicar a linguagem Duplicar é fazer uma cópia igual à outra e este não é o caso. A diferença sexual já está dada, não é a língua quem a cria. A linguagem apenas a nomeia, uma vez que existe. Nomear essa diferença é não respeitar o direito à existência e à representação dessa existência na linguagem.García Meseguer diz que de uma maneira simplista as duas posições poderiam se resumir em torno das recomendações de Nombra e aos inconvenientes que trás em adotá-las. A uma corrente –onde me incluo- importariam mais as mulheres que a linguagem, e a outra corrente importaria mais a linguagem que as mulheres. De qualquer maneira, a todos esses esforços feitos devemos avanços incríveis, também, coincidências e acordos em torno da detecção do sexismo e ao lugar das mulheres na linguagem, a invisibilidade nos genéricos, a denúncia dos homens representando os conceitos da humanidade e de universalidade, a crítica a invasão do pensamento androcêntrico e da cultura patriarcal como referentes e tantas descobertas mais. E a todos os esforços devemos as extensas análises de dicionários, meios de comunicação, textos literários, linguagem coloquial e teses, artigos, livros, conferências, mesas redondas, apaixonantes e apaixonadas conversas sobre este problema, tanto na língua castelhana como em outras línguas.

MULHERES ESCRITORAS: HEROÍNAS MEMORÁVEIS E OCULTAS



Mais do que o falar, o escrever para as mulheres tem sido visto como a usurpação de um direito que não lhes pertence e, ademais, como uma prática inútil, como aquilo não lhes corresponde. Disse Virginia Woolf: Creio que passará ainda muito tempo até que uma mulher possa sentar-se a escrever um livro sem que surja um fantasma que deve ser assassinado, sem que apareça uma pedra no meio do seu caminho. Do livro de Yadira Calvo À mulher pela palavra, me permito mostrar algumas histórias. A de Fanny Burney queimando todos os seus originais e colocando-se a fazer trabalho de ponto como penitência por escrever. A de Charlotte Brönte deixando de lado o manuscrito de Jane Eyre para descascar batatas. A de Jane Austen escondendo os papéis cada vez que entrava alguém, pela vergonha de que a vissem escrever. A de Katherine Anne Porter declarando haver tardado vinte anos para escrever uma novela. Era sempre interrompida por alguém que, em algum momento aparecia no meu caminho. Porter calculava que só pode empregar uns dez por cento de suas energias para escrever. Os outros noventa por centro usei para poder manter minha cabeça fora d´água, dizia. Recordo essa foto de María Moliner remendando meias com um ovo de madeira, enquanto escrevia sua obra, Dicionário do uso do castelhano ia nascendo entre panelas e coadores. Leio as queixas de uma Katherine Mansfield reprovando a seu marido: Estou escrevendo mas tu gritas: São cinco horas, onde está meu chá? Ou o doce lamento de uma cubana do século passado que não assinou suas obras: Quantas vezes lentamente/ com plácida inspiração/ formei uma oitava na minha mente/ e minha agulha inteligente/ remendava uma calça! Por isso disse Virginia Woolf a propósito da duquesa de Newcastle: Sabia escrever na sua juventude. Mas suas fadas, caso tenham sobrevivido, se transformaram e hipopótamos.Outro fato gravíssimo: a atribuição das obras das mulheres a outros, e em especial a seus maridos. Esse deve ter sido um fenômeno muito freqüente pois temos muitas referências. Desde o artigo publicado em 1866 por Rosalía de Castro As literatas: carta a Eduarda, onde a escritora faz essa advertência, até as palavras de Adela Zamudio, escritora boliviana do século XX: Se alguns versos escreve /de alguns esses versos são,/ que ela apenas os subscreve/ (Permita-me que me assombre.)/ Se é alguém não é poeta,/ Por que tal suposição?/ Por que é homem! Estão também os fatos históricamente comprovados: o célebre caso de María Lejarraga, autora das obras assinadas por seu marido Gregorio Martínez Sierra. E o fato de que foi o marido quem proibiu a Zelda Fitzgerald de publicar seu Diário porque ele o necessitava para seu próprio trabalho. E as primeiras obras de Colette que apareceram assinadas com o nome de seu marido, que inclusive cobrou o dinheiro de sua venda. Alguém dirá que vou muito atrás e que a humanidade mudou nos últimos vinte séculos. Pois bem, no ano 2000 e na Espanha só dez por cento dos livros publicadas foram escritos por mulheres.

MUDAR A LINGUAGEM, MUDARÁ A REALIDADE



Não obstante, existem mulheres capazes de escalar a encosta do proibido, de roubar da vida esses dez por cento de energia necessários para manter a cabeça fora da água. E a mantém. E escrevem. E editam. E aquí seguimos todas as demais. Lutando e celebrando os novos êxitos. Estendendo a rede para que todas as mulheres da terra tenham direito à voz, à palavra. Sabendo que vemos o mundo através do tecido formado pela língua e motivadas pela certeza de que a linguagem sexista, a que aprendemos, contribui para a perpetuação do patriarcado. Sabendo também que quando tenhamos uma linguagem que nos represente mudará a realidade. Por isso seguimos adiante. E não adormecemos mais às meninas com contos de fadas. Dizemos que as boas meninas vão para o céu e as más vão para todos lugares. E que colorín colorado, esta historia no ha acabado.

Apesar de você, o MST continua na luta

por mulheres rebeldes
fotos :
http://www.flickr.com/photos/marianapessah/sets/72157617446686586/

Primero en lengua brasilera

Mais um acampamento do Movimento dxs trabalhadores rurais sem terra do Rio Grande do Sul, está ameaçado com uma ação de despejo emitida pelo Ministério Público Federal. Xs advogadxs entraram com uma liminar, mas ontem ela foi negada.
Esse acampamento, chamado Sta. Rita de Cássia II, localizado no município de Nova Sta. Região Metropolitana de Porto Alegre, acolhe cerca de 400 adultxs e 200 crianças que lá se instalaram há mais de 3 anos.
Essa ação não tem lógica dado que esse acampamento está situado dentro de um assentamento do MST. As famílias são unânimes em sua argumentação: “esse foi um espaço conquistado com luta, é uma área de reforma agrária e a decisão é de resistir.” “Estamos dispostxs a tudo, até a morrer” diz uma voz e acrescenta, “Só não aceitaremos perder este espaço”.
Para nós, não é mais um despejo no movimento, é mais uma batalha a ganhar, acrescenta uma liderança do movimento. Na sua fala, refere-se aos dois despejos que sofreram recentemente também no RS.
Uma menina de quinze anos acrescenta, “já não podemos nem sentar para tomar um mate (chimarrão) com calma, estamos na expectativa de que eles cheguem a qualquer momento, mas nois resistiremos”.
O que eles querem, é acabar com o MST para que o Movimento não organize mais os pobres do campo e da cidade, acrescenta outra voz.

Recentemente o governo impediu as crianças que residem nos acampamentos de estudar, proibindo o funcionamento das escolas itinerantes, alegando que os colégios dos municípios tinham vagas. Quando o Movimento se comunicou com algumas delas responderam que seria impossível acolher tantas crianças. As famílias insistem na manutenção das escolas itinerantes, porque a luta é itinerante. Se, por exemplo, esse povo for despejado e temporariamente acampado a 300 kilometros do atual local, as crianças teriam que se adaptar novamente a um outro grupo, a outro nível, seja ele mais alto ou mais baixo. Quando a escola é itinerante, acompanha as crianças, priorizando o ensino, permanecendo o mesmo grupo de estudantes e docentes.

Por que o Governo do RS e o Ministério Publico Federal insistem em criminalizar e prejudicar o movimento? Será que o governo do RS pretende nos lembrar que a ditadura militar não acabou? É evidente que o seu desejo é terminar com o Movimento dxs trabalahdorxs sem terra, mas nós sabemos que isso é impossível.


Prefeririam talvez que as crianças que ali habitam, junto com seus pais/mães, recebendo educação diariamente, estivessem nas favelas das grandes cidades, expostas à violência da polícia e dos traficantes? Que as famílias ali acampadas a espera de terras para cultivar e obter o seu sustento, como tantas outras que vivem nos assentamentos gaúchos, estivessem desempregadas, ou subempregadas, aumentando a crescente miséria do antigo Sul Maravilha?
Numa época que a governadora pretende transformar velhas escolas em modernas prisões, e até privatizá-las, é urgente denunciar e apoiar a nossxs companheirx de luta.

De fato, o que parece é que o Estado está criando uma barreira protetora para que as multinacionais e os latifundiários dominem todas as terras disponíveis para a implantação da monocultura, de atividades predatórias ou simplesmente para ficarem improdutivas e desocupadas?

Se o campo não planta, a cidade não janta!
Todo nosso apoio ao MST e ao assentamento das famílias acampadas!

“Preferimos morrer lutando, do que morrer de fome”.

No final, sabemos que apesar de você, o jardim vai florescer.



A pesar tuyo, el MST continúa en la lucha
[1]
por mulheres rebeldes

fotos :
http://www.flickr.com/photos/marianapessah/sets/72157617446686586/

Ahora em lingua argentina


Otro campamento del Movimiento de Trabajadorxs rurales Sin Tierra del estado de Rio Grande do Sul, está amenazado de desalojo por el Ministerio Público Federal. Lxs abogadxs respondieron, pero ayer la respuesta fue negativa.

Este campamento, llamado Sta. Rita de Cássia II, localizado en el município de Nova Sta. Região Metropolitana de Porto Alegre, abriga cerca de 400 adultxs y 200 niñxs que se instalaron hace 3 años.

Esta acción no tiene lógica dado que está situado dentro de un asentamiento del MST, o sea, tierras ya conquistadas por la reforma agraria. Las familias son unánimes en su argumentación: “fue un espacio conquistado con lucha y la decisión es de resistir.” “Estamos dispuestxs a todo, inclusive a morir” dice una voz y agrega, “Solo no aceptaremos perder este espacio”.
Para nosotrxs, no es un desalojo más, es otra batalla a ganar, agrega una líder del movimiento. Se refiere a los dos desalojos que sufrieron recientemente también en este estado.
Una adolescente agrega, “ya no podemos ni sentarnos para tomar un mate con calma, estamos con el tema de que ellos llegan a cualquier momento, pero nosotrxs resistiremos” dice levantando el puño izquierdo.
Lo que ellos quieren, es acabar con el MST para que el Movimiento no organice más lxs pobres del campo y de la ciudad, agrega otra voz.

Recientemente, el gobierno impidió a lxs niñxs que residen en los campamentos de estudiar, prohibiendo el funcionamiento de las escuelas itinerantes, alegando que los colegios de los municipios tenían vagas. Cuando el Movimiento se comunicó para averiguar, respondieron que sería imposible abrigar tantxs niñxs. Las familias insisten en continuar con las escuelas itinerantes, porque la lucha es itinerante. Por ejemplo, si las personas de este campamento fueran expulsadas y temporariamente acampadas a 300 kilómetros del local actual, lxs niñxs tendrían que adaptarse nuevamente a otro grupo, otro nivel, sea más alto o más bajo. Cuando la escuela es itinerante, acompaña lxs niñxs, priorizando la enseñanza, permaneciendo el mismo grupo de estudiantes y docentes.

¿Por qué el Gobierno estadual y el Ministerio Público Federal insisten en criminalizar y perjudicar al movimiento? ¿Será que nos quieren meter miedo, hacer de cuenta que la dictadura militar no se acabó? Sabemos que quieren acabar con el MST, pero también sabemos que eso es imposíble.
Y lo que más irrita al gobierno, es que lxs activistas no tengan miedo, eso descoloca hasta al más armado.

Ellxs preferirían que lxs niñxs acampadxs, junto con sus padres/madres, recibiendo educación diariamente, estuviesen en las villas de las grandes ciudades, expuestxs a la violencia de la policía y de los traficantes? Que las familias allí acampadas a la espera de tierras para cultivar y obtener su sustento, como tantas otras que ya viven en los asentamientos del estado y del país, estuviesen desempleadxs, o subempleadxs, aumentando la creciente miseria del otrora estado llamado de clase alta brasilera.

En una época que la gobernación pretende transformar viejas escuelas en modernas prisiones, e inclusive privatizarlas, es urgente denunciar y apoyar a nuestrxs compañerx de lucha.

Pareciera que el Estado está creando una barrera protectora para que las multinacionales y los latifundios dominen todas las tierras disponibles para la implantación de la monocultura, de actividades predatorias o simplemente para transformarlas simplemente en improductivas y desocupadas.

¡Si el campo no planta, la ciudad no come!
¡Todo nuestro apoyo al MST y a los prontos asentamientos de las familias acampadas!

“Preferimos morir luchando, que morir de hambre”.

Al final, sabemos que a pesar tuyo, el jardín va a florecer.



[1] Aquí se parafrasea a la canción del cantautor Chico Buarque en la que le dedicaba este tema a los militares en la época de la dictadura. Vuelve a aparecer en la última frase de este texto, con la misma canción.

lunes, 27 de abril de 2009

Mais uma ação contra o MST do RS

Primero en lengua brasilera

Mais um acampamento do MST do estado do Rio Grande do Sul está sendo ameaçado de despejo pelo Ministério Público Federal. Após a tentativa cruel de impedir as crianças que residem nos acampamentos de estudar, proibindo o funcionamento das escolas itinerantes, o MP entra com uma ação de despejo contra o acampamento Nova Santa Rita na região metropolitana de Porto Alegre.
Esse acampamento acolhe cerca de 400 adultxs e 200 crianças que lá se instalaram há mais de 3 anos.
Essa ação não tem lógica dado que as pessoas estão em uma área do próprio movimento, em terras já entregues pelo governo ao MST, ou seja, estão alojadas dentro de um assentamento.

Por que o Governo do RS e o MP Federal insistem em criminalizar e prejudicar o movimento? Será que o governo do RS pretende nos lembrar que a ditadura militar não acabou? É evidente que o seu desejo é acabar com o Movimento dxs trabalahdorxs sem terra, mas nós sabemos que isso é impossível.

Prefeririam talvez que as crianças que ali habitam, junto com seus pais/mães, recebendo educação diariamente, estivessem nas favelas das grandes cidades, expostas à violência da polícia e dos traficantes? Que as famílias ali acampadas à espera de terras para cultivar e obter o seu sustento, como tantas outras que vivem nos assentamentos gaúchos, estivessem desempregadas, ou subempregadas, aumentando a crescente miséria do antigo Sul Maravilha?
Numa época que a governadora pretende transformar velhas escolas em modernas prisões, e até privatizá-las, é urgente denunciar e apoiar a nossxs companheirx de luta.

De fato, o que parece é que o Estado está criando uma barreira protetora para que as multinacionais e os latifundiários dominem todas as terras disponíveis para a implantação da monocultura, de atividades predatórias ou simplesmente para ficarem improdutivas e desocupadas?

Se o campo não planta, a cidade não janta!
Todo nosso apoio ao MST e ao assentamento das famílias acampadas!

“Preferimos morrer lutando, do que morrer de fome”.






Otra acción contra el MST del Estado de Rio Grande do Sul

Ahora em lingua argentina


Otro campamento del Movimiento de Trabajadorxs rurales Sin Tierra del estado de Rio Grande do Sul, está siendo amenazado de desalojo por el Ministerio Público Federal.

Después de una tentativa cruel de impedir a lxs niñxs que viven en los campamentos de estudiar, prohibiendo el funcionamiento de las escuelas itinerantes, el Ministerio entra con una acción de desalojo contra el campamento Nova Santa Rita en la región metropolitana de Porto Alegre. Este campamento abriga cerca de 400 adultxs y 200 niñxs desde hace más de 3 años.

Esta represalia no tiene lógica dado que las personas están alojadas en un área del propio movimiento, en tierras ya entregadas por el gobierno al MST, están dentro de un asentamiento.

¿Por qué el Gobierno estadual y el Ministerio Público insisten en criminalizar y perjudicar al movimiento? ¿Será que nos quieren meter miedo, hacer de cuenta que la dictadura militar no se acabó? Sabemos que quieren acabar con el MST, pero también sabemos que eso es imposíble.
Y lo que más irrita al gobierno, es que lxs activistas no tengan miedo, eso descoloca hasta al más armado.

Ellxs preferirían que lxs niñxs acampadxs, junto con sus padres/madres, recibiendo educación diariamente, estuviesen en las villas de las grandes ciudades, expuestxs a la violencia de la policía y de los traficantes? Que las familias allí acampadas a la espera de tierras para cultivar y obtener su sustento, como tantas otras que ya viven en los asentamientos del estado y del país, estuviesen desempleadxs, o subempleadxs, aumentando la creciente miseria del otrora estado llamado de clase alta brasilera.

En una época que la gobernación pretende transformar viejas escuelas en modernas prisiones, e inclusive privatizarlas, es urgente denunciar y apoyar a nuestrxs compañerx de lucha.

Pareciera que el Estado está creando una barrera protectora para que las multinacionales y los latifundios dominen todas las tierras disponibles para la implantación de la monocultura, de actividades predatorias o simplemente para transformarlas simplemente en improductivas y desocupadas.

¡Si el campo no planta, la ciudad no come!
¡Todo nuestro apoyo al MST y a los prontos asentamientos de las familias acampadas!

“Preferimos morir luchando, que morir de hambre”.




viernes, 24 de abril de 2009

3 coisas

E ai mulherada? Tão prontas para um novo sarau rebelde? Lembrem o convite é para que todas, e cada uma de nós.
Como sempre dizemos, a idéia é levar alguma coisa para ler, compartilhar, e também, uma boa escusa para bater um papinho, nos conhecermos mais e tomar uma geladinha no sábado.

Quando? Neste sábado 25 de abril as 19.00 horas
Onde? No Porto Beer, sim, na Rua da Republica, 38 - Cidade Baixa

Aproveitaremos para atualizar a lista de livros e revistas que temos a venda. São materiais que não se conseguem nas livrarias já que são trabalhos autônomos, feitos por fora da lógica do mercado comercial.

http://mulheresrebeldes.blogspot.com/2009/04/livros-e-revistas-venda.html



E aqui, também, deixamos a dica para assinarem uma petição on line, é muito importante gente!

À comunidade brasileira e internacional,
Os povos indígenas do Brasil vêm sofrendo uma campanha de difamação internacional em diversos sites da internet por parte de entidades religiosas que atuam no país, que os acusam de praticar com regularidade atos cruéis contra suas crianças. Reclamações freqüentes das comunidades chegam até funcionários da Fundação Nacional do Índio sobre o desvio de crianças indígenas das aldeias e hospitais, ao nascer ou quando são levadas para receber tratamento médico, para serem supostamente salvas e abrigadas em lares adotivos ou em instituições administradas por essas entidades, que passam, então, a solicitar doações para seu sustento através do site
http://apadrinhamento.atini.org/. Como contrapartida da soma recebida, a entidade oferece uma carta com fotografia e o histórico do “afilhado”, transgredindo desta forma as garantias de inviolabilidade moral e preservação da imagem, da identidade, da autonomia, dos valores, idéias e crenças proporcionadas às crianças brasileiras pelo Estatuto da Criança e do Adolescente.
A freqüência das queixas de familiares de crianças indígenas retiradas do convívio dos pais e a presença em escolas do Distrito Federal de crianças indígenas de diversas origens que não falam português sugerem que são numerosas em todo o Brasil as adoções não devidamente justificadas ou legalizadas de crianças indígenas. Como parte dessa campanha difamatória, veicularam na página do YouTube http://www.youtube.com/%20watch?v=st48Tdd9Sz4 o filme Children buried alive in the Amazon – HAKANI, que mostra o suposto enterramento de uma criança viva sem tornar explícito nesse site que se trata de atores indígenas remunerados para a encenação. A página web já foi acessada por centenas de milhares de espectadores e é duramente criticada por organizações de defesa dos Direitos Humanos, como Survival International, na sua página http://www.survival-international.org/informação/hakani. Tudo isso parece responder a um objetivo: passar uma lei no Congresso brasileiro que, invocando o propósito de “salvar as crianças”, facilitará a intrusão no meio e no modo de vida indígena e a intervenção na intimidade do cotidiano das aldeias. A Lei, se aprovada, permitirá a vigilância direta e o acesso indiscriminado de pessoas estranhas em localidades até hoje bem preservadas do contato com os não índios, e abrirá caminho para a ação de destruição dos mais diversos aspectos da vida própria destes povos, incluindo seu reconhecido serviço de proteger o meio ambiente para o benefício de toda a Humanidade.
Por isso pedimos a todos aqueles que prezam o valor de um mundo plural, capaz de abrigar e proteger as mais diversas modalidades de existência, que adiram à petição protocolada na Comissão de Direitos Humanos da Câmara dos Deputados do Brasil por uma comitiva de lideranças indígenas no dia 17 de abril. O documento entregue aos parlamentares pode ser lido na página da PETITION ONLINE:
http://www.petitiononline.com/mod_perl/petition-sign.cgi?14GATOS

RITA LAURA SEGATO (Depto. de Antropologia, Universidade de Brasília e AGENDE – Ações em GÊnero)

CLAUDIA FRANCO (Instituto Etno-Ambiental e Multicultural Aldeia Verde/ IEMAV)

jueves, 23 de abril de 2009

Livros e revistas a venda


Para solicitá-los, envia um e-mail para mulheres_rebeldes@hotmail.com
Também podes ligar para (51) 3333-3538 9239-1891

1º livro das mulheres rebeldes!!

- Chegou, finalmente em rebeldia – da bloga ao livro
marian pessah e clarisse Castilhos
http://mulheresrebeldes.blogspot.com/2009/04/em-rebeldia-da-bloga-ao-livro.html

“Durante os anos 2006 e 2007 fizemos uma bloga que chamamos EM REBELDIA. Além de ser um pouquinho nossa filhota, era um espaço de luta e de expressão, de contato com a rebeldia necessária e com nossas companheiras da América Latina e do Caribe – também necessárias.
Subíamos um texto – sempre de forma bilíngüe – acompanhado de um editorial no qual falávamos de coisas que tinham acontecido no pais, no mundo e até dentro das nossas cavernas.
Certo dia o sistema ordenador se incomodou e gritou BASTA! Daqui vocês não passam! E nos fechou suas portas.
Com medo de que todo este trabalho ficasse perdido nas profundezas de alguma memória rígida, nos sentamos no micro e foi assim que desenvolvemos este novo formato de organização dos textos em um livro".
Ele vem a trazer uma das preocupações de nosso grupo mulheres rebeldes, de ter material impresso, deixar marcas na historia. em rebeldia – da bloga ao livro, além de vir com textos nossos, de marian pessah e clarisse castilhos, tem da Ochy Curiel, Francesca Gargallo, Margarita Pisano, Claudia Korol, Audre Lorde, Teresa Meana, Emma Goldman, Monique Wittig, Simone de Beauvoir, Julieta Paredes e Victoria Aldunate Morales.
É uma nova realização da colección libertaria.

R$ 20,00 + R$ 5,00 gastos de envío


- Outra novidade que muitas de vocês estavam esperando, chegou
DESOBEDIENTES – Experiencias y reflexiones sobre poliamor, relaciones abiertas y sexo casual entre lesbianas latinoamericanas y caribeñas. Editoras: Norma Mogrovejo, marian pessah, Yuderkys Espinosa, Gabriela Robledo. Editorial en la frontera

R$ 25,00 + R$ 5,00 gastos de envío




- El patriarcado al desnudo. esgotado
Tres feministas materialistas: Colette Guillaumin, Paola Tabet Nicole Mathieu.
BRECHA LÉSBICA. Compiladoras Ochy Curiel / Jules Falquet.
http://mulheresrebeldes.blogspot.com/2008/11/el-patriarcado-al-desnudo.html

El “feminismo materialista francés” es sin duda una de las corrientes más radicales, aunque poco conocidas, del pensamiento y la práctica feminista. Desde 1970, su perspectiva teórica y política desnuda las raíces mismas de la subordinación de las mujeres al demostrar que no son un grupo biológico, natural, sino que al contrario una clase social, de sexo, construida por relaciones de producción y de explotación.

R$ 25,00 + R$ 5,00 gastos de envío


- De la cama a la calle : perspectivas teóricas lésbico-feministas – Jules Falquet. - BRECHA LÉSBICA.

De la cama a la calle : perspectivas teóricas lésbico-feministas propone profundizar acerca de la teoría y de la práctica lésbico-feminista, no solamente en Europa y Estados Unidos sino también en Latinoamérica y El Caribe. Además de trazar una historia de parte del movimiento lésbico y de su teorización, aporta un análisis político y materialista del amor y la pareja.
La autora nos propone ver el lesbianismo, no sólo como una práctica sexual individual, sino y sobre todo, como una práctica política y como una propuesta para cambiar este mundo de raíz.

R$ 25,00 + R$ 5,00 gastos de envío



- ESCRITOS DE UMA LESBIANA OSCURA
http://mulheresrebeldes.blogspot.com/2008/11/escritos-de-una-lesbiana-oscura.html

teoria lésbica-feminista : reflexiones críticas sobre feminismo y políticas de identidad en América Latina.
Yuderkys Espinosa Miñoso. en la frontera.

Escritos de una lesbiana oscura : reflexiones críticas sobre el feminismo y la política de identidad América Latina, es un libro escrito con pasión. Pasión de la que poco queda em el terreno amoroso y peor aún en el político. Su lectura nos invita a restablecer aquella fuerza perdida por una dilución en el pragmatismo y en la razón instrumental. El texto aboga por un restablecimiento de a potencia regeneradora de las utopías, aquellas que alguna vez planteó el feminismo como corriente política y filosofía de vida. Este llamado puede sonar tal vez, fuera de lugar y de época, marginal a este tiempo. Sin embargo, la autora se arriesga, pues otra no sería la justificación de su escritura. La lesbiana oscura que permanece siniestra, aislada, opaca, puede ser portadora de una extraña luz que trastoque la percepción y vuelva hermosos lo amenazable. en la frontera

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Literatura lésbica feminista


- Malena y el mar (esgotado, ultimos 5 números)
de marian pessah
colección Libertaria
http://www.flickr.com/photos/83523012@N00/215254806/in/set-72157594236892723/


Malena y el Mar... o el arte para desatar las incómodas sogas del patriarcado
mariana pessah da sus primeros pasos en la literatura uniendo una serie de relatos que conforman la vida de Malena Urtiaga, lesbiana, fotógrafa y artesana de sus propios deseos.
Ni de novelas, ni de cuentos, las anécdotas que narra la protagonista podrían bien, enmarcarse en relatos violeta. Un nuevo género para una mujer que, movida por su curiosidad y sus inquietudes, subvierte en escenas cotidianas la trama de una realidad envasada en consignas tramposas.
Las huellas en el mar de Malena abren caminos de sueños nuevos, de rebeldía inclaudicable.
Una muchacha que descubrirá la palabra lesbiana con el mismo asombro y naturalidad que revelará el amor.
Escucharemos a aquella adolescente que se preguntaba si alguna “sapita lesbiana” la despertaría de la aburrida pesadilla del príncipe azul de los cuentos de hadas; y festejaremos a la mujer que no duda en cambiar el génesis de la historia usando la detonación de los sentidos, acudiendo a la libertad de la imaginación.
La Malena de Mariana Pessah, relata con voz de tango y embestida de rock and roll, como una mujer puede deshacerse de las normas y recrear un mundo propio, legítimo, a partir del registro, casi fotográfico, de su propia alma.
La música de Malena suena al ritmo de los cambios, de los miedos, de las certezas y del latido de su corazón.

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Revistas:
- Esramos reeditando Costela de Adão!! Revista do primeiro grupo feminista dos anos 70 em Porto Alegre. Números 0 e 1. Não da para perder!!

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- Baruyeras revista lésbica feminista argentina
http://mulheresrebeldes.blogspot.com/2008/11/revista-baruyera.html

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miércoles, 22 de abril de 2009

O MST esclarece os acontecimentos no Pará


Em relação ao episódio na região de Xinguara e Eldorado de Carajás, nosul do Pará, o MST esclarece que os trabalhadores rurais acampadosforam vítimas da violência da segurança da Agropecuária Santa Bárbara.Os sem-terra não pretendiam fazer a ocupação da sede da fazenda nemfizeram reféns. Nenhum jornalista nem a advogada do grupo foram feitosreféns pelos acampados, que apenas fecharam a PA-150 em protestos pelaliberação de três trabalhadores rurais detidos pelos seguranças. Osjornalistas permaneceram dentro da sede fazenda por vontade própria,como sustenta a Polícia Militar. Esclarecemos também que:


1- No sábado (18/4) pela manhã, 20 trabalhadores sem-terra entraram namata para pegar lenha e palha para reforçar os barracos do acampamentoem parte da Fazenda Espírito Santo, que estão danificados por contadas chuvas que assolam a região. A fazenda, que pertence àAgropecuária Santa Bárbara, do Banco Opportunity, está ocupada desdefevereiro, em protesto que denuncia que a área é devoluta. Depois derecolherem os materiais, passou um funcionário da fazenda com umcaminhão. Os sem-terra o pararam na entrada da fazenda e falaram queprecisavam buscar as palhas. O motorista disse que poderia dar umacarona e mandou a turma subir, se disponibilizando a levar a palha e alenha até o acampamento.


2- O motorista avisou os seguranças da fazenda, que chegaram quando ostrabalhadores rurais estavam carregando o caminhão. Os segurançaschegaram armados e passaram a ameaçar os sem-terra. O trabalhadorrural Djalme Ferreira Silva foi obrigado a deitar no chão, enquanto osoutros conseguiram fugir. O sem-terra foi preso, humilhado e espancadopelos seguranças da fazenda de Daniel Dantas.


3- Os trabalhadores sem-terra que conseguiram fugir voltaram para oacampamento, que tem 120 famílias, sem o companheiro Djalme. Avisaramos companheiros do acampamento, que resolveram ir até o local daguarita dos seguranças para resgatar o trabalhador rural detido. Logodepois, receberam a informação de que o companheiro tinha sidoliberado. No período em que ficou detido, os seguranças mostraram umalista de militantes do MST e mandaram-no indicar onde estavam. Depois,os seguranças mandaram uma ameaça por Djalme: vão matar todas aslideranças do acampamento.


4- Sem a palha e a lenha, os trabalhadores sem-terra precisavam voltarà outra parte da fazenda para pegar os materiais que já estavamseparados. Por isso, organizaram uma marcha e voltaram para retirar apalha e lenha, para demonstrar que não iam aceitar as ameaças. Osjornalistas, que estavam na sede da Agropecuária Santa Bárbara,acompanharam o final da caminhada dos marchantes, que pediram paraeles ficarem à frente para não atrapalhar a marcha. Não havia aintenção de fazer os jornalistas de “escudo humano”, até porque ostrabalhadores não sabiam como seriam recebidos pelos seguranças.Aliás, os jornalistas que estavam no local foram levados de avião pelaAgropecuária Santa Bárbara, o que demonstra que tinham tramado umaemboscada.


5- Os trabalhadores do MST não estavam armados e levavam apenasinstrumentos de trabalho e bandeiras do movimento. Apenas um posseiro,que vive em outro acampamento na região, estava com uma espingarda.Quando a marcha chegou à guarita dos seguranças, os trabalhadoressem-terra foram recebidos a bala e saíram correndo – como mostram asimagens veiculadas pela TV Globo. Não houve um tiroteio, mas umatentativa de massacre dos sem-terra pelos seguranças da AgropecuáriaSanta Bárbara.


6- Nove trabalhadores rurais ficaram feridos pelos seguranças daAgropecuária Santa Bárbara. O sem-terra Valdecir Nunes Castro,conhecido como Índio, está em estado grave. Ele levou quatro tiros, noestômago, pulmão, intestino e tem uma bala alojada no coração. Depoisde atirar contra os sem-terra, os seguranças fizeram três reféns.Foram presos José Leal da Luz, Jerônimo Ribeiro e Índio.


7- Sem ter informações dos três companheiros que estavam sob o poderdos seguranças, os trabalhadores acampados informaram a PolíciaMilitar. Em torno das 19h30, os acampados fecharam a rodovia PA-150,na frente do acampamento, em protesto pela liberação dos trêscompanheiros que foram feitos reféns. Repetimos: nenhum jornalista nema advogada do grupo foram feitos reféns pelos acampados, maspermaneceram dentro da sede fazenda por vontade própria. Os sem-terraapenas fecharam a rodovia em protesto pela liberação dos trêstrabalhadores rurais feridos, como sustenta a Polícia Militar.


MOVIMENTOS DOS TRABALHADORES RURAIS SEM TERRA – PARÁ

lunes, 20 de abril de 2009

em rebeldia - da bloga ao livro


Olá gente! Como tínhamos falado, apresentamos a nossa filhota, 1º livro das mulheres rebeldes : em rebeldia – da bloga ao livro




Durante os anos 2006 e 2007 fizemos uma bloga que chamamos EN REBELDÍA, era um espaço de luta e de expressão, de contato com a rebeldia necessária e com nossas companheiras da América Latina e do Caribe – também necessárias.
Subíamos textos na internet – sempre de forma bilíngüe – acompanhados de um editorial no qual falávamos de coisas que tinham acontecido no pais, no mundo e até dentro das nossas cavernas.
Certo dia o sistema ordenador se incomodou e gritou BASTA! Daqui vocês não passam! E nos fechou suas portas.
Com medo de que todo este trabalho ficasse perdido nas profundezas de alguma memória rígida, nos sentamos no micro e foi assim que desenvolvemos este novo formato de organização dos textos em um livro. Isto, também é parte da filosofia do nosso grupo, MULHERES REBELDES, ir caminhando e deixando as nossas pegadas pelas praias da vida.

em rebeldia – da bloga ao livro, além de vir com textos nossos, marian pessah e clarisse castilhos, tem da Ochy Curiel, Francesca Gargallo, Margarita Pisano, Claudia Korol, Audre Lorde, Teresa Meana, Emma Goldman, Monique Wittig, Simone de Beauvoir, Julieta Paredes e Victoria Aldunate Morales.
É uma nova realização da colección libertaria.


para consegui-lo escreve para mulheres_rebeldes@hotmail.com R$ 20,00

lunes, 13 de abril de 2009

reunião 15 de abril - 19.00 horas

Olá amigas e companheiras, como passaram as pasquas? Comendo chocolate? Isso é que é bom, vamos abandonar as dietas da anorexia, pelas da felicidade. Curtir mais o presente e acabar com a ditadura dos corpos famélicos, o que acham?

Estamos mais do que atrasadas para contar o que temos feito – finalmente e com muito esforço – concluímos nosso livro em rebeldia – da bloga ao livro.
Ainda não temos data certa de lançamento, embora a gente já tenha uma surpresinha para o final deste mês. Aguarde. Também vamos atualizar nossa lista de livros a venda. Estamos com vários e variados livros da nossa livraria-distribuidora-cooperativa rebelde. Durante esta semana já estaremos divulgando por mail e subiremos na bloga.

Próxima reunião
Na última reunião entramos pelos caminhos da França, conversamos sobre a Simone de Beauvoir e foi tão interessante que decidimos que nesta quarta continuaremos com a linha das feministas materialistas francesas, é por isso que vamos trabalhar um texto imprescindível da Monique Wittig, ninguém nasce mulher.
http://mulheresrebeldes.blogspot.com/2009/04/ninguem-nasce-mulher.html
Não esqueça de já vir com o texto lido e impresso. Aí nossas conversas rendem mais...
Te esperamos.

Quando : quarta-feira 15 de abril 19,00 horas
Onde : na Travessa Francisco Leonardo Truda 40, sobreloja – Porto Alegre/RS.

Fones : 51 – 3333 3538 / 9239 1891 / 9253 4300
mulheres_rebeldes@hotmail.com

Ninguém nasce mulher

Monique Wittig


O enfoque feminista/materialista da opressão das mulheres acaba com a idéia de que as mulheres são um “grupo natural”: “um grupo racial de um tipo especial, um grupo concebido como natural, percebido como um grupo de homens materialmente específicos em seus corpos”.
O que a análise consegue ao nível das idéias, a prática torna atual ao nível dos fatos: por sua própria existência, a sociedade lésbica destrói o fato artificial (social) que classifica as mulheres como “um grupo natural”. Uma sociedade lésbica revela que a divisão com relação aos homens, dos quais as mulheres tem sido objeto, é política e mostra que temos sido ideologicamente reconstituídas como um “grupo natural”. No caso das mulheres, a ideologia vai longe já que nossos corpos, assim como nossas mentes, são o produto desta manipulação. Em nossas mentes e em nossos corpos, somos levadas a corresponder, característica a característica, a idéia da natureza que foi estabelecida para nós; tão pervertida que nosso corpo deformado é o que eles chamam “natural”, o que supostamente existia antes da opressão; tão distorcido que no final das contas a opressão parece ser uma conseqüência dessa “natureza”, dentro de nós mesmas (uma natureza que é somente uma idéia). O que uma análise materialista faz com base no raciocínio, uma sociedade lésbica cumpre praticamente: não apenas não existe um grupo natural chamado mulher (nós lésbicas somos a prova disso), mas, como individuas, também questionamos “mulher” que, para nós—como para Simone de Beauvoir— é apenas um mito. Ela afirmou: “Não se nasce, mas se faz mulher. Não tem nenhum destino biológico, psicológico ou econômico que determine o papel que as mulheres representam na sociedade: é a civilização como um todo a que produz esta criatura intermediária entre macho e eunuco, que é descrita como feminina”.
Contudo, a maioria das feministas e lésbicas-feministas na América, e em outras partes, ainda consideram que a base da opressão das mulheres é biológica e histórica. Algumas delas pretendem encontrar suas raízes em Simone de Beauvoir. A crença no matriarcado e numa “pré-história” quando as mulheres criaram a civilização (a causa de uma predisposição biológica), enquanto os homens toscos e brutais caçavam, é simétrica à interpretação biológica da história elaborada, até hoje, pela classe dos homens. Ainda é o mesmo método de buscar nos homens e nas mulheres uma explicação biológica para sua divisão, excluindo os fatos sociais. Para mim, isso não poderia nunca constituir uma análise lésbica da opressão das mulheres porque se supõe que a base de nossa sociedade ou de seu início, está na heterossexualidade. O matriarcado não é menos heterossexual que o patriarcado: muda apenas o sexo do opressor. Ademais, não somente esta concepção está prisioneira das categorias do sexo (homem/mulher), senão que se aferra à idéia de que a capacidade de dar a luz (ou seja, a biologia) é o que define a uma mulher. Ainda que os fatos práticos e os modos de vida contradigam essa teoria na sociedade lésbica, há lésbicas que dizem que “as mulheres e os homens são espécies distintas ou raças: os homens são biologicamente inferiores às mulheres; a violência dos homens é uma inevitabilidade biológica”.

Ao fazer isso, ao admitir que há uma divisão “natural” entre mulheres e homens, naturalizamos a história, assumimos que “homens” e “mulheres” sempre existiram e sempre existirão. Não apenas naturalizamos a história, mas também, em conseqüência, naturalizamos o fenômeno que expressa nossa opressão, tornando a mudança impossível. Por exemplo, não se considera a gravidez como uma produção forçada, mas como um processo “natural”, “biológico”, esquecendo que em nossas sociedades a natalidade é planejada (demografia), esquecendo que nós mesmas somos programadas para produzir progênie, enquanto que esta é a única atividade social, “com exceção da guerra”, que implica tanto perigo de morte. Assim, enquanto sejamos “incapazes de abandonar, por vontade ou impulso, um compromisso de toda a vida e de séculos, de produzir crianças como o ato criativo feminino”, ganhar o controle sobre essa produção significará muito mais que o simples controle dos meios materiais dela: as mulheres terão que abstrair-se da definição “mulher” que lhes é imposta.

Uma visão materialista mostra que o que nós consideramos a causa e a origem da opressão é somente um mito imposto pelo opressor: o “mito da mulher” e suas manifestações e os efeitos materiais na consciência apropriada e o apropriado corpo das mulheres; ainda assim, esse mito não antecede à opressão. Colette Guillaumin demonstrou que antes da realidade sócio-econômica da escravidão negra, o conceito de raça não existia, ou pelo menos, não tinha seu significado moderno, uma vez que estava aplicado à linhagem das famílias. Entretanto, hoje, a raça, tal como o sexo, é entendida como um “fato imediato”, “sensível”, "características físicas" que pertencem a uma ordem natural. Mas, o que nós acreditamos que é uma percepção direta e física, não é mais do que uma construção sofisticada e mítica, uma “formação imaginária” que reinterpreta traços físicos (em si mesmos neutros como quaisquer outros, por marcados pelo sistema social) por meio da rede de relações nas quais elas são vistas. (Elas são vistas como negras, por isso são; elas são olhadas como mulheres, por isso são mulheres. Mas, antes que sejam vistas dessa maneira, elas tiveram que ser feitas assim). As lésbicas devem recordar e admitir sempre como ser “mulher” era tão “anti-natural”, totalmente opressivo e destrutivo para nós nos velhos tempos, antes do movimento de libertação das mulheres.

Era uma construção política e aquelas que resistiam eram acusadas de não ser mulheres “verdadeiras”. Mas então ficávamos orgulhosas disso, porque na acusação estava já algo como uma sombra de triunfo: o consentimento, pelo opressor, de que “mulheres” não era um conceito simples (para ser uma, era necessário ser uma “verdadeira”). Ao mesmo tempo, éramos acusadas de querer ser homens. Hoje, esta dupla acusação foi retomada com entusiasmo no contexto do movimento de libertação das mulheres, por algumas feministas e também, por desgraça, por algumas lésbicas cujo objetivo político parece tornar-se cada vez mais “femininas”. Porém recusar ser uma mulher, sem dúvida, não significa ter que ser um homem. Ademais, se tomamos como exemplo o perfeito “butch” (hiper masculino) —o exemplo clássico que provoca mais horror—a quem Proust chamou uma mulher/homem, em que difere sua alienação de alguém que quer tornar-se mulher? São gêmeos siameses. Pelo menos, para uma mulher, querer ser um homem significa que escapou a sua programação inicial. Mas, ainda se ela, com todas suas forças, se esforça por consegui-lo, não pode ser um homem, porque isso lhe exigiria ter, não apenas uma aparência externa de homem, mas também uma consciência de homem, a consciência de alguém que dispõe, por direito, de dois—se não for mais—escravos “naturais” durante seu tempo de vida. Isso é impossível, e uma característica da opressão das lésbicas consiste, precisamente, em colocar à mulheres por fora de nosso alcance, já que as mulheres pertencem aos homens.

Assim, uma lésbica tem que ser qualquer outra coisa, uma não-mulher, um não-homem, um produto da sociedade e não da natureza, porque não existe natureza na sociedade.
O recurso em converter-se (ou manter-se) heterossexual sempre significou rechaçar a conversão em um homem ou uma mulher, conscientemente ou não. Para uma lésbica isso vai mais longe que o recurso do papel “mulher”, é o recurso do poder econômico, ideológico e político de um homem. Isto, nós lésbicas, e também não-lésbicas, já sabíamos antes. Isto, nós lésbicas e também não-lésbicas, já sabíamos desde o inicio dos movimentos feministas e lésbicos. Contudo, como ressalta Andrea Dworkin, muitas lésbicas recentemente “tentaram transformar a própria ideologia que nos escravizou em uma celebração dinâmica, religiosa, psicologicamente coercitiva do potencial biológico feminino”. Mesmo assim, algumas avenidas dos movimentos feminista e lésbico conduzem de novo ao mito da mulher criada pelo homem, especialmente para nós, e com ele nos afundamos outra vez em um grupo natural. Depois que nos posicionamos a favor de uma sociedade sem sexos, agora nos encontramos presas no familiar beco sem saída de “ser mulher é maravilhoso”. Simone de Beauvoir sublinhou particularmente a falsa consciência que consiste em selecionar entre as características do mito (que as mulheres são diferentes dos homens) aquelas que se parecem bem usando-as como definição para mulher. O que o conceito “mulher é maravilhoso” cumpre é instituir, para definir mulher, as melhores características (melhores de acordo com quem?) que a opressão nos garantiu, sem questionar radicalmente as categorias “homem”e “mulher”, que são categorias políticas e não fatos naturais. Isto nos coloca na posição de lutar dentro da classe “mulheres”, não fazem as outras classes, pela desaparição de nossa classe, mas para defender as “mulheres” e seu fortalecimento. Nos conduz a desenvolver com complacência “novas” teorias sobre nossa especificidades: assim, chamamos a nossa passividade “não-violência”, quando nossa luta mais importante e emergente é combater nossa passividade (nosso medo, justificado). A ambigüidade da palavra “feminista” resume toda a situação. Que significa “feminista”? Feminismo é formado pelas palavras “fêmea”, mulher, e significa: alguém que luta pelas mulheres. Para muitas de nós, significa uma luta pelas mulheres e por sua defesa—pelo mito, portanto, e seu fortalecimento. Mas porque foi escolhida a palavra ‘feminista' se é tão ambígua? Escolhemos chamar-nos feministas há dez anos, não para apoiar ou fortalecer o mito do que é ser mulher, não para nos identificarmos com a definição do nosso opressor, mas para afirmar que nosso movimento contava com uma história e para destacar esse laço político com o velho movimento feminista.

Assim, é este movimento que podemos colocar em questão pelo significado que deu ao feminismo. Ocorre que o feminismo do século passado não é capaz de solucionar suas contradições nos temas da natureza/cultura, mulher/sociedade. As mulheres começaram a lutar por si mesmas como um grupo e consideravam acertadamente que compartilhavam traços comuns como resultado da opressão. Mas, para elas, estes traços eram mais naturais e biológicos que sociais. Elas foram tão longe como adotar a teoria darwinista da evolução. No entanto, não acreditavam, como Darwin, “que as mulheres eram menos desenvolvidas que os homens, mas acreditava, sim, que a natureza tanto do macho como da fêmea haviam divergido no curso do processo evolutivo e que a sociedade em geral refletia esta polarização”. “O fracasso das primeiras feministas foi que somente atacaram a idéia Darwinista da inferioridade da mulher, mas aceitaram os fundamentos dessa idéia-ou seja, a visão da mulher como “única”. E, finalmente, foram as mulheres estudantes —e não as feministas—que acabaram com esta teoria. Mas, as primeiras feministas fracassaram ao não olhar para a história como um processo dinâmico que se desenvolveu com base em conflitos de interesses. Mais, elas ainda acreditavam, como os homens, que a causa (origem) de sua opressão estava dentro de si próprias. E, por isso, depois de alguns triunfos inacreditáveis, as feministas se encontraram frente a um impasse, sem aparentes razões para lutar. Elas sustentavam o princípio ideológico da “equidade na diferença”, uma idéia que hoje está renascendo. Elas caíram na trama que hoje nos ameaça outra vez: o mito de mulher.

Assim, é nossa tarefa histórica, e somente nossa, definir em termos materialistas o que é opressão, para tornar evidente que as mulheres são uma classe, o que significa que as categorias “homem” e “mulher” são categorias políticas e econômicas e não eternas. Nossa luta tenta fazer desaparecer homens como classe, não como um genocídio, mas com a luta política. Quando a classe “homens” desaparece, “mulheres” como classe também desaparecerá, porque não há escravos sem senhores. Nossa primeira tarefa, ao que nos parece, é sempre desassociar por completo “mulheres” (a classe dentro da qual lutamos) e “mulher”, o mito. Porque “mulher” não existe para nós: é somente uma formação imaginária, enquanto mulheres é produto de uma relação social. Sentimos fortemente isso quando, em todas as partes, rejeitamos ser chamadas “movimento de liberação da mulher”. Mais ainda, temos que destruir o mito dentro e fora de nós. Mulher não é cada uma de nós, mas a formação política e ideológica que nega “mulheres” (o produto de uma relação de exploração). “Mulher” existe para confundir-nos, para ocultar a realidade “mulheres”. Para que sejamos conscientes de sermos uma classe, e para nos convertermos em uma classe, temos primeiramente que matar o mito da “mulher”, incluindo seus traços mais sedutores (penso em Virginia Woolf quando ela diz que a primeira tarefa de uma mulher escritora é “matar o anjo da casa”). Mas, para que sejamos uma classe, não temos que aniquilar nossa individualidade e, como nenhum individuo pode ser reduzido a sua opressão, somos também confrontadas com a necessidade histórica de constituirmos a nós mesmas como o sujeito individual de nossa história também. Creio que esta é a razão porque todas essas tentativas de dar “novas” definições à mulher estão florescendo agora.
O que está em jogo (e, claro, não somente para as mulheres) é uma definição individual, assim como uma definição de classe. Porque, quando se admite a opressão, necessita saber e experimentar o fato de que pode ser seu próprio sujeito (em contrapartida a um objeto da opressão); que uma pode converter-se em alguém. Não obstante a opressão, que tem uma identidade própria. Não há luta possível para alguém privado de uma identidade; carece de uma motivação interna para lutar, porque, não obstante só eu posso lutar com outros, luto sobretudo por mim mesma.

A questão do sujeito individual é históricamente uma questão difícil para todos. O marxismo, último avatar do materialismo, a ciência que nos formou politicamente, não quer ouvir nada sobre o “sujeito”. O marxismo rejeitou o sujeito transcendental, o sujeito como constitutivo do conhecimento, a “pura” consciência. Todo ser que pensa por si mesmo, previamente a qualquer experiência, acabou no lixo da história, porque pretendia existir acima da matéria, antes da matéria, e necessitava Deus, espírito, ou alma para existir dessa maneira. Isto é o que se chama “idealismo”. Quanto aos indivíduos, eles são somente o produto de relações sociais e, por isso, sua consciência somente pode ser “alienada” (Marx, na Ideologia Alemã, diz, precisamente, que os indivíduos da classe dominante também são alienados, sendo eles mesmos os produtores diretos das idéias que alienam as classes oprimidas por eles. Mas, como tiram vantagens óbvias de sua própria alienação, eles podem suportá-la sem muito sofrimento).
A consciência de classe existe, mas é uma consciência que não se refere a um sujeito particular, exceto enquanto participa em condições gerais de exploração, ao mesmo tempo que os outros sujeitos de sua classe, todos compartilhando a mesma consciência. Quanto aos problemas práticos de classe — afora os problemas de classe tradicionalmente definidos— que é possível encontrar (por exemplo, problemas sexuais), eles foram considerados problemas “burgueses” que desapareceriam chegado o triunfo final da luta de classes. “Individualista”, “subjetivista”, “pequeno burguês”, estas foram as etiquetas aplicadas a qualquer pessoa que expressasse problemas que não se pudessem reduzir à “luta de classes” em si mesma.

Assim, o marxismo negou aos integrantes das classes oprimidas o atributo de sujeitos. Ao fazer isto, o marxismo, por causa do poder político e ideológico que esta “ciência revolucionária” exercia sem mediações sobre o movimento operário e todos os outros grupos políticos, impediu que todas as categorias de pessoas oprimidas se constituíssem historicamente como sujeitos (sujeitos de sua luta, por exemplo). Isto significa que as “massas” não lutavam por elas mesmas mas pelo partido ou suas organizações. E quando uma transformação econômica ocorreu (fim da propriedade privada, constituição do estado socialista), nenhuma mudança revolucionária teve lugar na nova sociedade, porque as próprias pessoas, não haviam mudado.

Para as mulheres, o marxismo teve dois resultados. Tornou-lhes impossível adquirir a consciência de que eram uma classe e por tanto de constituir-se como uma classe por muito tempo, abandonando a relação “mulher/homem” fora da ordem social, fazendo dessa uma relação natural, sem dúvida, para os marxistas, a única relação vista desta maneira, junto com a relação entre mulheres e filhos, e finalmente ocultando o conflito de classe entre homem e mulher atrás de uma divisão natural do trabalho (A Ideologia Alemã). Isso concerne ao nível teórico (ideológico). No nível prático, Lênin, o partido, todos os partidos comunistas até hoje, incluindo a todos os grupos políticos mais radicais, sempre reagiram contra qualquer tentativa das mulheres para refletir e formar grupos baseados em seu próprio problema de classe, com acusações de divisionismo. Ao nos unir nós as mulheres, dividimos a força do povo. Isso significa que, para os marxistas, as mulheres pertencem seja à classe ou à classe operária, ou em outras palavras, aos homens dessas classes. Mais ainda, a teoria marxista não concebe que as mulheres, como a outras classes de pessoas oprimidas, que se constituam em sujeitos históricos, porque o marxismo não leva em consideração que uma classe também consiste em indivíduos, um por um. A consciência de classe não é suficiente. Temos que tentar entender filosoficamente (politicamente) esses conceitos de “sujeito” e “consciência de classe” e como funcionam em relação com a nossa história. Quando descobrimos que as mulheres são objetos de opressão e de apropriação, no momento exato em que nos tornamos capazes de reconhecer isso, nos convertemos em sujeitos no sentido de sujeitos cognitivos, através de uma operação de abstração. A consciência da opressão não é apenas uma reação a (lutar contra) opressão. É também toda a reavaliação conceitual do mundo social, sua total re-organização com novos conceitos, do ponto de vista da opressão. É o que eu chamaria a ciência da opressão criada pelos oprimidos. Esta operação de entender a realidade tem que ser empreendida por cada uma de nós: podemos chamá-la uma prática subjetiva e cognitiva. O movimento para frente e para trás entre os níveis da realidade (a realidade conceitual e a realidade material da opressão, ambas as realidades sociais) se consegue através da linguagem.

Somos nós que historicamente temos que realizar essa tarefa de definir o sujeito individual em termos materialistas. Seguramente isso parece uma impossibilidade, porque o materialismo e a subjetividade sempre foram reciprocamente excludentes. Entretanto, e em lugar de perder as esperanças de chegar a entender alguma vez, temos que reconhecer a necessidade de alcançar a subjetividade no abandono por muitas de nós do mito da “mulher” (que é só uma armadilha que nos detém). Esta necessidade real de cada uma existir como individuo, e também como membra de uma classe, é talvez a primeira condição para que se consuma uma revolução, sem a qual não há luta real ou transformação. Mas o oposto também é verdadeiro; sem classe e consciência de classe não há verdadeiros sujeitos, somente indivíduos alienados.

Para as mulheres, responder à questão do sujeito individual em termos materialistas consiste, em primeiro lugar, em mostrar, como o fizeram as feministas e as lésbicas, que os problemas supostamente “subjetivos”, “individuais” e “privados” são, de fato, problemas sociais, problemas de classe; que a sexualidade não é, para as mulheres, uma expressão individual e subjetiva, mas uma instituição social de violência. Mas uma vez que tenhamos mostrado que todos nossos problemas supostamente pessoais são, de fato, problemas de classe, ainda nos restará responder ao assunto de toda mulher singular —não do mito, mas de cada uma de nós. Neste ponto, digamos que uma nova e subjetiva definição para toda a humanidade pode ser encontrada mais além das categorias de sexo (mulher e homem) e que o surgimento de sujeitos individuais exige destruir primeiro as categorias de sexo, eliminando seu uso, e rejeitando todas as ciências que ainda as utilizam como seus fundamentos (praticamente todas as ciências).

Destruir “mulher” não significa que nosso propósito consiste na destruição física, não significa destruir o lesbianismo simultaneamente com as categorias de sexo, pois o lesbianismo oferece, de momento, a única forma social na qual podemos viver livremente. Lesbiano é o único conceito que conheço que está mais além das categorias de sexo (mulher e homem), pois o sujeito designado (lesbiano) não é uma mulher, nem economicamente, nem politicamente, nem ideologicamente. Pois o que faz uma mulher é uma relação social específica com um homem, uma relação que chamamos servidão, uma relação que implica uma obrigação pessoal e física e também econômica (“residência obrigatória”, trabalhos domésticos, deveres conjugais, produção ilimitada de filhos, etc.), uma relação a qual as lésbicas escapam quando rejeitam tornar-se o seguir sendo heterossexuais. Somos prófugas de nossa classe, da mesma maneira que os escravos americanos fugitivos o eram quando se escapavam da escravidão e se libertavam. Para nós esta é uma necessidade absoluta; nossa sobrevivência exige que contribuamos com toda nossa força para destruir a classe das mulheres na qual os homens se apropriam. Isto só pode ser alcançado pela destruição da heterossexualidade como um sistema social baseado na opressão das mulheres pelos homens e que produz a doutrina da diferença entre os sexos para justificar essa opressão.

martes, 7 de abril de 2009

Mulheres em ação, eucaliptos no chão

por clarisse castilhos



primero en lengua brasilera


fotos : http://www.flickr.com/photos/27200362@N02/sets/72157615421559467/


Namorando a madrugada
Eu e minha namorada
Vamos andando na estrada
Que vai dar no avarandado do amanhecer
No avarandado do amanhecer

Noite de 08 de março de 2009. Um abraço apertado em algumas companheiras que reencontramos depois de um ano, outro na companheira que fica. E o ônibus parte ao encontro das outras. Pouco a pouco vai se afastando da cidade poluída e violenta e entrando na estrada enluarada por uma gorda lua cheia. Noite de bruxas. A noite prateada e o silêncio sugeriam sombras e imagens, a gente pensava nos companheiros e companheiras que ficaram em casa, nos despejos que aconteceram durante o ano, na repressão às escolas itinerantes, única opção de alfabetização e de educação para as crianças que são seguidamente arrancadas de seus acampamentos e jogadas em outros.
Mas não era a retaliação o que nos movia. Era o desejo de mostrar à sociedade que existem alternativas. Muitas alternativas. O desejo de levar à sociedade urbana, aos trabalhadores rurais- a peonada-, à classe média e aos trabalhadores das pequenas cidades, a compreensão de que o monocultivo não vai gerar alimentos para o povo brasileiro, nem vai originar uma sociedade cooperativa e solidária. Pior, certamente vai levar à miséria rural e urbana e à destruição ambiental. O coração apertava quando vinham as imagens da repressão do ano passado quando mais de 60 mulheres e crianças fomos humilhadas por palavras e fisicamente agredidas.
Imersas nesses pensamentos imaginamos as curvas sensuais das coxilhas do Sul, lambidas com delicadeza pela lua prateada. Porém, ao espiar pela janela, já na madrugada, estranhas e assustadoras sombras se erguiam, dominando a paisagem do pampa gaúcho. Lá onde antigamente haviam rios, lagoas e açudes, hoje está desfigurado pela escuridão mórbida das intermináveis fileiras de eucaliptos. Não os nossos velhos eucaliptos, plantados em pequena quantidade ao redor das casas, para conter o vento minuano. Não. Milhares de pés.
Apenas a empresa Votorantim Celulose e Papel possui 48 mil ha de monocultivo de eucalipto para exportação nessa região. Essas árvores consomem 30 litros de água por dia e ameaçam o aqüífero guarani pela contaminação com agrotóxicos e pelo esgotamento da reserva de água que alimenta parte do Cone Sul. Claro que essa fábrica de árvores é subsidiada pelo estado, claro que ameaça os assentamentos da região, por várias razões, e onde já se sente a escassez de água.
Saindo do asfalto penetramos na escuridão absoluta da fazenda Ana Paula, cujos 80 km da estrada precária que percorremos são ladeados por massas compactas de eucaliptos. Ao cabo de duas horas descemos, rompendo a escuridão da noite e sentindo o alvorecer em nossos corpos cansados. Apenas com nossas ferramentas de trabalho fomos enfrentar nossos inimigos. Não os eucaliptos, mas o sistema que os elegeu como a monocultura do momento, os homens sem escrúpulos que só querem tirar dinheiro da terra, o governo omisso que não pensa em novas alternativas. Isso num período de crise profunda, em que a produção de alimentos está ameaçada e as próprias produtoras de árvores estão enfrentando dificuldades, porque o dinheiro emprestado para a produção foi usado na especulação financeira.
Nossas risadas, as cores que trazíamos em nossas roupas, o brilho de nossos olhos, iluminaram aquele ambiente sepulcral, e muitas árvores tombaram sob os golpes de foices e facões. Um corte simbólico de uma centena de árvores que durou apenas uma hora.
A caminhada de volta, sob o sol já muito quente e sobre a terra totalmente ressequida, foi duro, mas nos permitiu a todas ver cada centímetro daquele interminável deserto verde. Compreender a expressão deserto verde. Nem um pássaro, nem um animal, nenhuma macega. Apenas árvores enfileiradas como numa linha de produção de automóveis.
No final dessa primeira caminhada nos sentimos mais protegidas, pois havia sinal de humanidade. Apertado entre as plantações de eucalipto, o assentamento estava lá. Acampamos na beira da estrada, e de lá podemos observar a diferença entre um modelo e outro. De um lado vida, solidariedade, do outro árvores mortas, transfiguradas pelo capital.
E tudo ocorreu como prevíamos. A brigada nos deteve na manhã seguinte e prendeu 5 companheiras e um companheiro. Por que? Porque precisam justificar sua ação contra nossa movimentação pacífica. Precisam escolher algumas, aleatoriamente, para se justificar frente ao poder dos oligarcas do Sul do estado, frente às ordens do capital multinacional. As outras foram identificadas e revistadas e encaminhadas nos ônibus para Candiota, onde passamos a noite. Nossa serenidade evitou qualquer agressão. Nossas companheiras foram liberadas e no terceiro dia, encerramos nossa atividade com uma caminhada por Bagé.

Da mesma forma que os eucaliptos, as pessoas formavam uma massa escura e silenciosa. Poucas pessoas ousavam ficar na beira da calçada só para bisbilhotar, como em qualquer cidade normal. Não eram latifundiários, nem latifundiárias, mas sua sombra estava sobre todos e todas, assim como a sombra dos eucaliptos. Pouquíssimas pessoas, principalmente trabalhadores e trabalhadoras, aceitavam conversar conosco. A engenheira que sorridente aceitou distribuir os panfletos para os operários que trabalhavam na obra que dirigia, o casal na loja de antiguidades que nos saudou sorridente dizendo que a luta estava bonita. Pessoas anônimas que ousavam nos olhar com simpatia e até assumir essa posição num espaço sumamente controlado. Uma versão antiquada de 1984. O controle social é uma velha instituição patriarcal e nada mais patriarcal que a oligarquia rural e seu sucessor, o agronegócio multinacional. Mas as poucas e singulares pessoas que acreditam na vida e se manifestam mesmo nos cantos mais conservadores do planeta, nos ajudaram muito. Aqueceram nossos corações e confirmaram o acerto de nossas escolhas.

Existem sim alternativas para a humanidade, mas não dentro do capitalismo. A atual crise do sistema financeira internacional não foi gerada pela classe trabalhadora, foi gerada pelo capital. Nós não queremos solução para esse sistema, queremos o fim do capital e a criação de outras formas de se relacionar e de produzir.

Sem feminismo não há socialismo! Pela revolução cotidiana e permanente!

Porto Alegre, março de 2009





agora em lingua argentina


“Mujeres en acción, eucaliptos en el piso”
por clarisse castilhos
[1]

fotos : http://www.flickr.com/photos/27200362@N02/sets/72157615421559467/


Namorando a madrugada
Eu e minha namorada
Vamos andando na estrada
Que vai dar no avarandado do amanhecer
No avarandado do amanhecer



Noche de 08 de marzo de 2009. Um abrazo apretado en algunas compañeras que reencontramos después de un año, otro en la que se queda. El ómnibus parte al encuentro de las otras. Poco a poco vamos dejando la ciudad poluída y violenta y nos vamos adentrando por un camino de luna, gorda, llena. Noche de brujas, plateada, en la que el silencio sugiere sombras e imágenes. Nosotras pensábamos en los compañeros y compañeras que se quedaron en casa; en quienes fueron expulsadxs de sus lugares durante el año; en las escuelas itinerantes, única opción de alfabetización y educación para lxs niñxs que son seguidamente arrancadxs de sus campamentos
[2] y puestos en otros.
No era la venganza lo que nos movía. Era el deseo de mostrar a la sociedad que existen alternativas. Muchas alternativas. El deseo de llevar a la sociedad urbana, a lxs trabajdorxs rurales - la peonada -, a la clase media y a lxs trabajadorxs de las pequeñas ciudades, la comprensión de que el monocultivo no va a generar alimentos para el pueblo brasilero, ni originará una sociedad cooperativa y solidaria. Peor, ciertamente va a llevar la miseria rural y urbana y la destrucción ambiental. El corazón apretaba cuando venían las imágenes de la represión del año pasado cuando más de 900 mujeres y niñxs fuimos humilladas con horribles gritos y más de 60 también agredidas físicamente.
Inmersas en estos pensamientos imaginamos las curvas sensuales de las caderas del Sur, lambidas con delicadeza por la luna plateada. Sin embargo, al espiar por la ventana, ya de madrugada, extrañas y asustadoras sombras comenzaban a erguirse dominando el paisaje de la pampa gaucha. Ahí, donde antiguamente había ríos, lagunas y arroyos, hoy está desfigurado por la oscuridad mórbida de las interminables hileras de eucaliptos. Pero no hablo de nuestros viejos eucaliptos, plantados en pequeña cantidad alredor de las casas para detener el viento minuano. No. Me refiero a millares e interminables, uno tras otro.
Apenas la empresa Votorantim Celulose y Papel posee 48 mil hectáreas de monocultivo de eucalipto para exportación en esta región. Estos árboles consumen 30 litros de agua por día y amenazan el acuífero guaraní por la contaminación con agrotóxicos y por el agotamiento de la reserva de agua que alimenta parte del Cono Sur. Esta fábrica de árboles que es subsidiada por el estado, amenaza los asentamientos
[3] de la región donde ya se siente la escasez de agua.
Saliendo del asfalto penetramos en la oscuridad absoluta de la hacienda Ana Paula
[4], cuyos 80 km de camino precario que recorremos son ladeados por masas compactas de eucaliptos. Al cabo de dos horas bajamos rompiendo la oscuridad de la noche y sintiendo el alborecer en nuestros cuerpos cansados. Apenas con nuestras herramientas de trabajo fuimos a enfrentar a nuestros enemigos. No los eucaliptos, sino el sistema que los eligió como a la monocultura del momento, los hombres sin escrúpulos que sólo quieren sacar dinero de la tierra, el gobierno omiso que no piensa en nuevas alternativas. Estamos en un período de crisis profunda en que la producción de alimentos está amenazada y las propias productoras de árboles están enfrentando dificultades; el dinero prestado para la producción fue usado en la especulación financiera.

Nuestras risas, los colores que traíamos en nuestras ropas, el brillo de nuestros ojos, iluminaban aquel ambiente sepulcral, muchos árboles cayeron al piso por los golpes de la hoz y el cuchillo. Un corte simbólico de una centena de árboles que duró apenas una hora.
Emprendemos la caminata de vuelta bajo un sol arrasador y sobre la tierra árida, totalmente reseca; fue duro, pero nos permitió a todas ver cada centímetro de aquel interminable desierto verde. Comprender y sentir la expresión desierto verde. Ni un pájaro, ni un animal, ni un mísero yuyo. Apenas árboles en hileras como en una línea de producción de automóviles.
Al final de esa primera caminada nos sentimos más protegidas, había señal de humanidad; apretado entre las plantaciones de eucalipto, el asentamiento allí estaba. Acampamos a la orilla del camino y de allí podíamos observar la diferencia entre un modelo y otro. De un lado vida, solidariedad, del otro árboles muertos, transfigurados por el capital.
Todo ocurrió como lo habíamos previsto. La brigada nos detuvo a la mañana siguiente y se llevó a 5 compañeras y un compañero del asentamiento
[5] ¿Por qué? Porque precisan justificar su acción contra nuestro andar pacífico. Precisan elegir algunas aleatoriamente, para justificarse frente al poder de los oligarcas del Sur del estado, frente a las órdenes del capital multinacional. Las otras fuimos identificadas y revisadas, luego encaminadas a los ómnibus para la ciudad de Candiota[6] , lugar donde pasaríamos la noche. Nuestra serenidad evitó cualquier agresión. Las compañeras fueron liberadas y al tercer día, terminamos nuestras actividades con una caminata por Bagé. De la misma forma que los eucaliptos, las personas formaban una masa oscura y silenciosa. Pocas personas osaban quedarse en las calzadas solo para curiosear, como en cualquier ciudad normal. No eran latifundiarios, ni latifundiarias, pero su sombra estaba sobre todos y todas, igual que la sombra de los eucaliptos. Poquísimas personas, principalmente trabajadores y trabajadoras aceptaban conversar con nosotras. La ingeniera que sonriente aceptó distribuir panfletos para los operarios que trabajaban en la obra que dirigía, la pareja en el negocio de antigüedades que nos saludó amablemente diciendo que la lucha estaba bonita. Personas anónimas que se animaban a mirarnos con simpatía e incluso asumir esta posición en un espacio sumamente controlado. Una versión anticuada de 1984. El control social es una vieja institución patriarcal y nada más patriarcal que la oligarquía rural y su sucesor, el agronegocio multinacional. Pero las pocas y singulares personas que creyeron en la vida y se manifestaron inclusive en los rincones más conservadores del planeta, nos ayudaron mucho. Calentaron nuestros corazones y confirmaron el acierto de nuestras elecciones.

Si existen alternativas para la humanidad, pero no dentro del capitalismo. La actual crisis del sistema financiero internacional no fue generada por la clase trabajadora, sino por el capital. Nosotras no queremos soluciones para este sistema, queremos el fin del capital y la creación de otras formas de relaciones y de producción.

¡Sin feminismo no hay socialismo! ¡Por la revolución cotidiana y permanente!

Porto Alegre, marzo de 2009


[1] Grupo mulheres rebeldes.

[2] Las personas que están acampando son aquellas que ocuparon una tierra y se ubican a las márgenes del camino dando visibilidad a la lucha. Viven en carpas de nylon negro, de forma muy precaria hasta que el gobierno les haga entrega de las tierras. El tiempo es incierto, hay casos que han esperado 6 meses, otros 8 años. Depende mucho del gobierno de turno.

[3] Asentamientos : Las personas asentadas son aquellas que luego de haber acampado durante un tiempo, ya recibieron las tierras para vivir y trabajar. Esas comunidades se llaman asentamientos.

[4] Ubicada al sur del Estado de Rio Grande do Sur, en las inmediaciones de Bagé, - ciudad fronteriza con Uruguay. Cuenta con 110.000 habitantes y está dominada desde hace mucho por la producción latifundista.

[5] Como la okupación era solamente de mujeres, una vez frente al asentamiento, algunos hombres solidarios fueron designados para algunas tareas de apoyo dado que todas estábamos envueltas en la acción y no podíamos circular entre los lugares.

[6] Pequeña ciudad de 8000 habitantes, vecina de Bagé.